quarta-feira, 30 de março de 2011

LICENÇA PARA FALAR

Hoje peço licença para fugir ao tema deste blog.
Diante das desgraças sociais que se apresentam o tempo todo, quase todo mundo faz o mais fácil, fecha os olhos. Difícil mesmo é diante delas vencer a paralisia do preconceito.
Meu coração doeu ao ver aquela mulher jogada na calçada, totalmente nua, encolhida como um animal sem dono. Era possível perceber nitidamente seu desequilíbrio mental, encolhida, seus pés tremiam, não de frio, talvez um tic-nervoso, não sou médica, não sei dizer.
Todos que passavam viam, muitos finjiam não ver, muitos não davam importância, outros até riam, talvez pela nudez da mulher. Mas o que é a nudez de um ser jogado numa calçada senão o sinal do mais completo despojo, não o altruísta, mas o do ser que deixou de se sentir Ser Humano.
Diante da paralisia que a todos contamina tentei reagir, pedimos (eu e Ari) ajuda a amigos comerciantes vizinhos, mas se negaram a dar roupas, ainda que velhas, para vestirmos o corpo e um pouco da dignidade daquela mulher. Alegaram que ela mesma se despe.
Dez horas se passaram e ainda me sinto indignada com o descaso meu e de todos. E o Poder Público? A quem devemos recorrer se quisermos socorrer alguém nesta situação? Sinceramente, eu não sei! Talvez precise me informar mais sobre isso, e o farei.
Não é a primeira vez que me deparo com pessoas nesta situação. São doentes mentais, com certeza adoecidos pelo descaso, pela desigualdade dessa nossa sociedade. Jogados pelas calçadas como animais sarnentos, sem donos, sem casa, sem bando. Logo pergunto-me, o que é isto no que está se transformando nossa cidade?
O Poder Público não está conseguindo dar conta dos problemas sociais desta grande cidade. O asfalto, os viadutos, as praças, a urbanização em geral de uma cidade melhora seu aspecto e, também a vida de muitas pessoas, mas os que governam grandes cidades não podem fazer vista grossa para os problemas sociais que, com o crescimento, vêm aumentados.
Cada cidadão pode, se quiser, também fazer algo para mudar o estado das coisas. O problema é que estamos nos acostumando a olhar e não ver, a ficar parados, a encontrar uma zona de conforto para nossas vidas e lá fixar morada, a pensar “e daí, não é comigo”. Todos podemos fazer algo para mudar aquilo de que não gostamos e realizar o que desejamos. Basta sermos fortes e reagirmos à inércia. Cada um deve buscar dentro de si mesmo uma forma de fazê-lo.
Minha indignação hoje me fez refletir sobre muitas coisas. Logo, fui compelida a compartilhar com todos quanto possível meu desejo infinito de que o descaso não seja uma epidemia social, que muitos outros também se indignem e façam ecoar uma voz em prol de boas causas. Que façam voltar nas pessoas a coragem para reinvindicar aquilo que têm direito ou que acreditam.
Que Deus nos ajude a sarar essa nossa Nação dos males que nós mesmos criamos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagens populares